terça-feira, 22 de junho de 2010

Dance

Qual a garota que não chegou um dia achar o balé uma coisa linda? A maioria pelo menos teve essa época. Em meados de 2004, me matriculei no curso que estava tendo na escola. Eu havia achado meu caminho. Eu adorava aquilo. Contava os dias, as horas para o inicio das aulas.
Pliê. Demi-pliê. Cambres. Piruetas. Movimentos leves, que necessitavam um pouco de sutileza. Sempre achei que bailarina era uma espécie de princesa. Talvez, princesa da caixinha de jóias. Mas sempre com uma linda coroa e na ponta dos pés.
A dança para mim era como uma valsa de cores. Misturava toda e qualquer etnia. Pois existe algum lugar do mundo em que não se dance?
Aqueles figurinos cobertos de tule, saias rodadas, meia-calças, deixavam meus olhos de criança sonhadora arregalados.
Era como se a cada movimento, eu descobrisse uma habilidade ou uma falha. Dançando eu estava me conhecendo. Era como se meu corpo produzisse uma música própria, mas só meus ouvidos estavam adaptados para ouvi-la.
Passei um bom tempo me dedicando a isso, ao meu sonho daquela época distante. Com o passar do tempo, fui crescendo, e esse sonho foi cedendo lugar a outros. Tive de me dedicar mais aos estudos, pois aquele sonho estava fazendo minha média na escola cair, e eu não conseguia conciliar as duas coisas.
Mas eu acho que isso foi uma desculpa para mim mesma. Eu sabia o porquê da desistência, mas eu preferia continuar me enganando. Subjugava-me ao medo.
Eu queria fazer parte do espetáculo, mas ao mesmo tempo não queria sair das coxias.
Eu tinha medo do fracasso, pois sabia que havia garotas melhores que eu. Garotas dotadas de um dom que eu queria. Eu era a mera gordinha iniciante, e que não conseguia vislumbrar um futuro ali.
Nunca me trataram mal, pelo contrário, bailarinas são afáveis, ou a grande maioria. O problema era travado dentro de mim e não ao meu redor.
Porque eu descobri uma forma diferente de dançar: dançar com palavras. Apaixonei-me pelas letras e seus mistérios que até hoje me envolvem.
Eu acredito muito nessa história de dom. Dançar não era minha melhor aptidão, não sei se escrever é a melhor coisa que faço, mas foi a única forma que encontrei para renegar os caminhos que me trouxeram onde estou. Pois quando escrevo me invento do modo como quero, tendo uma história diferente, sendo autora do meu próprio destino.
A dança é a fala do corpo. É a forma mais linda de pertencer a si mesmo. O corpo é a cápsula da alma. E se meu corpo é dançante, minha alma subitamente será da mesma forma.
Mas eu sei que minha alma dança na calada da noite, entre a grama molhada de sereno, ou ao relento do alto de uma grande montanha. Posso até não fazer mais balé, nem outro tipo de dança, mas minha alma sempre estará em movimentos dançantes, junto com minhas poesias que querem se mover em um papel.

3 comentários:

Anônimo disse...

Realmente,
O ballet deslumbra as pessoas...eu também já me deslumbrei, mas, sou muito melhor com a caneta e o papel!
Parabéns pelo post!

marcela disse...

meu deus que post lindo, voce escreve muito bem! ah, mas acho que eu não trocaria o ballet por nada, ok, faço ha pouco tempo mas amo muito.

Vanessa Regina disse...

Bem, não há dúvida que você tem o dom das palavras menina. Às vezes, levamos tempo para encontrar nosso verdadeiro caminho, é difícil.... mas ele existe! E nada melhor que a literatura para nos dar uma mãozinha...

P.S: Também já me apaixonei pelo balé... mas depois descobri as letras....