quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Hora H

Tuas mãos percorrem meus seios
Eu me irrito, mas disfarço.
Teus olhos me fitam
E eu me sinto embaraçada e falsa.

Meu corpo não cede ao teu tesão,
Teu calor não me motiva,
Tuas mentiras me brocham.

Não quero fazer amor,
Quero arranhar tuas costas até sangrar,
Até arrancar todas tuas verdades.

Tua língua em meu clitóris,
Teus dedos me adentrando
 E o que sinto é pouco
 O que sinto é nada.

Tuas mãos acariciam minhas coxas
Penso nos livros que quero ler
Meu corpo continua rígido em defesa
Gemo baixinho
E engulo o tempo lento que demora a passar.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Temos nosso próprio tempo

“O que foi escondido é o que se escondeu
E o que foi prometido, ninguém prometeu”

É estranho quando alguém que sumiu há uns 10 anos resolve voltar e te convidar por meio de uma amiga pra jantar. Reunião de velhos amigos. Algo blasé.
Estranho, porque da última vez que você apareceu aqui em casa, foi assim também, repentinamente.  Numa noite enquanto eu ouvia Tempo Perdido, da Legião.  Permaneceu na cidade durante uns cinco dias. Tocou violão na minha sala, riu dos meus apelidos, me contou as novidades, me roubou uns beijos e partiu.

E estranhamente a gente não se despediu.

Nem quando você foi embora pela primeira vez nos despedimos.

Lembro que eu tinha escrito uma carta, só que obviamente não entreguei. E obviamente que chorei durante meses a tua ausência, principalmente depois de ter descoberto que tu tinhas vindo à minha casa se despedir justamente na hora em que eu estava na igreja.

 Sempre foi um jogo: você fugia e eu recuava.  (Ou o destino cagava tudo)

Amor de criança, como um esconde-esconde.

Essa história cheia de buracos. Repleta de falhas. E sem um ponto final. Não apareci para a janta. Inventei mil desculpas pra não remexer no passado.  Mas fiquei feliz de saber que você está bem e que ainda lembra de mim.


Quem sabe daqui uns 20 anos você volta e vamos tomar uma cerveja

sábado, 24 de outubro de 2015

8 quase amores ou 8 quase poesias

Dos meus 8 quase amores

1.
Menino da camisa verde
E do boné cinza
Morava aqui na esquina
Ouvia Slipknot e mentia

2.
Moço dos braços tatuados,
Andava de skate,
Era astronauta de mármore,
E tinha apelido de margarina

3.
Moreno,
De gêmeos,
Com a roupa de cheiro estranho,
Escrevia cartas com sua própria foto
E com a caligrafia das amigas

4.
Menino rejeitado,
Me deixava bombons embaixo da classe,
Me deu uma rosa branca e foi ignorado

5.
Fã de Charlie Brown Jr,
Apareceu na minha casa depois de muitos anos
Jogou muita bola por ai e sumiu
Depois de uma noite ardil em frente ao meu portão

6.
Dono de um par de belos olhos azuis,
Com cara de fuinha,
Infantil e mesquinha

7.
Virginiano,
Olhos verdes,
Boca carnuda,
Tocava Twist and shout
Fumava maconha,
Cheirava cocaína

8.
Aquariano,
Ateu,
Gostava de ficar em sua fortaleza
Olhando pras estrelas


8 amores de uma menina,
8 poesias falhas,
sem métrica, sem rima.

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Subtração



Mas as coisas findas,
muito mais que lindas,
essas ficarão.
(Carlos Drummond de Andrade)

Somente agora entendo
teu choro que acompanhava o meu,
quando quis que eu alçasse voo
para longe da tua vida

Somente agora compreendo
teu medo de dar errado,
porque era isso que tu querias

Somente agora acordo
pra minha vida que corre,
pra minha juventude que desliza,
pro meu tempo que escorre

Somente agora excluo
o amor fracassado,
o carregamento pesado
dos meus ombros cansados

Somente agora subtraio
teu eu da minha fala
e guardo como recordação
tua poesia de Drummond

terça-feira, 6 de outubro de 2015

Sobre amores errôneos e fingimentos

Quando eu era menor fiz um juramento: nunca deixar uma pessoa me magoar da mesma forma que meu pai havia magoado minha mãe. Cresci vendo o errôneo amor das mulheres de minha família desfalecer e se decompor em fragmentos impregnados de mentiras. Minha avó, minha mãe e minha irmã, nenhuma das três obteve êxito no quesito amor. E agora, percebo que somos quatro.
Minha avó teve literalmente uma paixão que batia forte, e que tanto lhe espancou sua carne esguia e jovem. Minha mãe teve e ainda tem um sentimento ingênuo nutrido por alguém não tão ingênuo. E minha irmã simplesmente confundiu liberdade com amor durante sua juventude. Bom, e agora aqui estou eu – que sabendo de todas as histórias mal sucedidas, por um instante achei que comigo as coisas seriam diferentes.
Por milésimos de segundos, pensei ter encontrado a pessoa certa. Então, meu leitor de Drummond, o poeta que me enchia de esperanças, o músico que cantarolava Beatles, não era a pessoa perfeita que eu imaginava. Descobri que ele era feito de carne e osso, e que sua carne ansiava a de outra pessoa. E que além de ansiar, seu corpo esteve em cinco noites acariciado por outro corpo que não o meu.
Nunca desconfiei, porque realmente achava que o problema que nos afligia era à distância. Sempre pensei que o sexo era ruim por causa do meu peso, ou que o problema era meu por nunca conseguir atingir um orgasmo. Ou até mesmo porque eu achava outros homens e outras mulheres atraentes. Ou que o problema era o meu bloqueio de falar sobre o que eu sentia. Hoje, acho que as dores, as brigas e os choros foram causados pelas mentiras jogadas para debaixo do tapete.
De repente, ele não é mais o cara com quem eu queria dividir uma vida, um gato e dois filhos. Agora ele se resume ao cara que me traiu. Ele é simplesmente o cara com quem divido o aluguel e a cama pelo simples fato de não ter para onde ir. Por não querer regressar para a casa da minha mãe, depois de tanto andar por ai. E por não querer regredir ainda mais.
Eu que não queria reproduzir novamente a história dos meus pais, me vi na mesma situação. Me vi no papel de minha mãe ao encaixotar os discos do meu pai, quando mandou ele embora de nossa casa. Me vi como em uma novela ridícula ao recortar em pedaços as camisetas dele.
Ele diz que foi um erro do passado, estava confuso em relação a nós. Eu finjo que acredito. Finjo que perdoo. Finjo que ainda amo. Finjo, mas não para ele, e sim para mim mesma. Apenas para não me sentir no limbo e no breu de não saber que direção seguir.

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Sobre relacionamentos

Após todos os acontecimentos dos últimos dias eu me deparo com sentimentos grandes demais. Enquanto, minhas pernas cansadas pesam e minha cabeça lateja, sinto uma mistura de sentimentos que fervilha em minhas veias como um coquetel de remédios.  
Em meio a isso, me questiono sobre minhas antigas atitudes e sobre o futuro dos relacionamentos. Eu que me vendei por algum tempo e vivi um clichê de amor à distância. Eu que tapei meus ouvidos para todas as críticas. Eu que sempre tão impulsiva mergulhei com ímpeto em algo único que parecia tão certo. Sempre me doei por inteira.  E vou continuar fazendo acrobacias, desbravando novos sentimentos e me doando a cada instante que me proporcione felicidade.  Mas agora sem apegos materiais e físicos.
Não posso ser dona de ninguém, nem de mim mesma. Da mesma forma, que não desejo um dono. Quero apenas ser regida pelos instantes. Quero sentimentos bons, mesmo que para isso eu precise da companhia de mais de uma pessoa.  
Não quero opinião alheia, porque agora eu tenho em mim a leveza de um recomeço.  Não quero omissões e mentiras, quero é tecer novos contos, novas poesias e novas crônicas. Quero outras trilhas sonoras, quero outros barulhos e outras sensações do meu corpo contra ou sobre o de outro alguém.  Quero ter a liberdade e a sinceridade de encarar uma pessoa nos olhos enquanto nossos músculos se contraem e entram em espasmos, deixando transparecer toda a minha verdade e todo meu prazer em ser mais realista. 

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Quase inteira

Somos eu, você e o calor estranho de fevereiro.  Eu me remexo na cama procurando um jeito confortável de ficar deitada. Ligo o ventilador. Desligo-o. Ligo o ar condicionado. Desligo-o. Sinto frio. Sinto calor. Sinto a angústia crescendo em meu peito.
Me encolho até parecer um tatu-bola. Não estou confortável ainda. Coloco meus pés sob teus quadris. Percebo teu desconforto.  Puxo teus braços e viro teu corpo para que fique de frente para ao meu. Olhar com olhar. Teu abraço me sufoca. Tua respiração pesada deposita peso até na minha. Então me reviro na cama, bagunço os lençóis e te dou as costas.
As molas do colchão me irritam, assim como o lençol me irrita ao pinicar minha pele. Arfo o ar com dificuldade e não consigo engolir minha própria saliva. É como se eu me engasgasse. É como se ao mastigar o mundo, ele tivesse ficado entalado em minha garganta. Fecho os olhos com força.
O que me desconforta?   Me sinto incapaz de ser dona de mim. Me sinto idiota, frágil e medrosa. Não consigo mais suportar. Explodo. E as lágrimas caem.  No escuro do quarto, tu tateias meu rosto, pressentido o que era iminente que aconteceria.
Como tu suportas esses altos e baixos tão inesperados? Como ainda não se encheu de mimimi e neuroses fora de hora? Me pergunto sempre isso.  Não sei por que tenho essas crises e esses big bangs dentro de mim.
Choro compulsivamente por uns 15 minutos. Tu me questionas o porquê. E a resposta é sempre aquele substantivo pequeninho: medo. Só que em cada circunstancia, muda o complemento da frase.
Tu me afagas o cabelo embaraçado. Tu beijas minhas bochechas úmidas e me apertas em um abraço de consolo. O peso de eu ser alguém pela metade recai sobre teus ombros de pessoa-inteira. Até quando tu suportarás esse fardo?
Meu inconsciente gritante se aquieta.  As perguntas cessam, enquanto tu sussurras fofurices em meus ouvidos. Me recomponho. Me regozijo . Continuo a farsa: sou inteira de novo.