Queria que você enquanto dobrasse
aquelas roupas da loja da sua mãe me visse cruzando a rua pela manhã, que me
visse assim mesmo, todo borrada de rímel como uma panda rechonchuda e com a
cara amassada.
Confesso que às vezes deliro em
silêncio ziguezagueando pela rua movimentada − e hoje não foi diferente −
sonhei acordada enquanto andava lentamente. Imaginei você vindo até mim e
mudando nossa história. Você correndo atrás de mim e gritando meu nome tão alto
que suas cordas vocais acabariam doendo.
E você não me deixaria mais escapar. Você confessaria que me queria
perto, seguraria minha mão e nós zombaríamos do mundo.
Mas na verdade, só resta você me
fitando de longe, talvez rindo internamente da minha cara de maluca amanhecida
e levantando as mãos para o céu dando graças que tomou a escolha certa ao
dispensar essas minhas psicoses e o resto de minhas asneiras em versinhos que
carrego comigo.
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