terça-feira, 6 de outubro de 2015

Sobre amores errôneos e fingimentos

Quando eu era menor fiz um juramento: nunca deixar uma pessoa me magoar da mesma forma que meu pai havia magoado minha mãe. Cresci vendo o errôneo amor das mulheres de minha família desfalecer e se decompor em fragmentos impregnados de mentiras. Minha avó, minha mãe e minha irmã, nenhuma das três obteve êxito no quesito amor. E agora, percebo que somos quatro.
Minha avó teve literalmente uma paixão que batia forte, e que tanto lhe espancou sua carne esguia e jovem. Minha mãe teve e ainda tem um sentimento ingênuo nutrido por alguém não tão ingênuo. E minha irmã simplesmente confundiu liberdade com amor durante sua juventude. Bom, e agora aqui estou eu – que sabendo de todas as histórias mal sucedidas, por um instante achei que comigo as coisas seriam diferentes.
Por milésimos de segundos, pensei ter encontrado a pessoa certa. Então, meu leitor de Drummond, o poeta que me enchia de esperanças, o músico que cantarolava Beatles, não era a pessoa perfeita que eu imaginava. Descobri que ele era feito de carne e osso, e que sua carne ansiava a de outra pessoa. E que além de ansiar, seu corpo esteve em cinco noites acariciado por outro corpo que não o meu.
Nunca desconfiei, porque realmente achava que o problema que nos afligia era à distância. Sempre pensei que o sexo era ruim por causa do meu peso, ou que o problema era meu por nunca conseguir atingir um orgasmo. Ou até mesmo porque eu achava outros homens e outras mulheres atraentes. Ou que o problema era o meu bloqueio de falar sobre o que eu sentia. Hoje, acho que as dores, as brigas e os choros foram causados pelas mentiras jogadas para debaixo do tapete.
De repente, ele não é mais o cara com quem eu queria dividir uma vida, um gato e dois filhos. Agora ele se resume ao cara que me traiu. Ele é simplesmente o cara com quem divido o aluguel e a cama pelo simples fato de não ter para onde ir. Por não querer regressar para a casa da minha mãe, depois de tanto andar por ai. E por não querer regredir ainda mais.
Eu que não queria reproduzir novamente a história dos meus pais, me vi na mesma situação. Me vi no papel de minha mãe ao encaixotar os discos do meu pai, quando mandou ele embora de nossa casa. Me vi como em uma novela ridícula ao recortar em pedaços as camisetas dele.
Ele diz que foi um erro do passado, estava confuso em relação a nós. Eu finjo que acredito. Finjo que perdoo. Finjo que ainda amo. Finjo, mas não para ele, e sim para mim mesma. Apenas para não me sentir no limbo e no breu de não saber que direção seguir.

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