"Eu não escrevo em português. Escrevo eu mesmo."

(Fernando Pessoa)

Ultimamente, eu tenho me perdido em minhas próprias palavras, na tentativa de fazer com que elas reflitam meus sentimentos. Pois sou fria, e nunca consigo dizer o que realmente quero. Afinal, as palavras aquecem, até o mais gélido coração.

E com elas eu posso tornar qualquer mentira em verdade. E qualquer verdade em mentira.

As palavras são jogos. Um jogo de letras e sílabas.
Um jogo que reflete minha alma, em tom e cor. Faz desvendar-me a cada letra que junto à outra, até formar a palavra que anseio.
Pois cada palavra tem seu mistério esplendoroso. Esplendor este que me cega.

Eu preferia ser uma palavra, para que todos me lessem com mais facilidade.
Sou enigmática, como uma frase sem sentido. Sou contraditória, como um paradoxo.
Sou delicada como um poema que fale de amor. Sou irônica como uma sátira. Sou simples como uma crônica. Exagerada como uma hipérbole, mas que tem seus momentos de eufemismo.
Às vezes sou uma onomatopéia, pois faço certos ruídos. Sou também prosopopéia, dou vida a coisas brutas e os torno meus amigos nos momentos de solidão. Sou metáfora, quando me comparo as palavras. E um pleonasmo quando uso meus clichês antigos e desgastados pelo tempo.
Posso ser muitas figuras de linguagem, mas nenhuma língua me traduz. Não escrevo palavras de um idioma, eu simplesmente me escrevo e me invento em um pedaço de papel.