sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Imã

Na noite anterior, peguei uma folha e uma caneta velha que acabava falhando em certos instantes. Escrevi a primeira linha: Meu coração é uma terra desértica, sem qualquer indicio de habitantes. A caneta resolveu me deixar na mão. Sai à procura de uma caneta em meio ao breu que se encontrava minha casa, sem nenhuma luz para me guiar fui apalpando cada objeto que havia sobre a minha escrivaninha.

Num breve intervalo de tempo, tudo o que eu iria escrever naquele meu jeito egocêntrico de sempre acabou evaporando. Sentei-me na cama na expectativa de ter novamente a mesma idéia, mas ela não fluiu de novo.

Esparramei-me lentamente sobre a cama que primeiramente rangeu e depois se calou, permitindo-me um momento de reflexão. Um reflexo de você pairou em meus pensamentos.

Resolvi retomar o que havia escrito, mas mudei de idéia quanto ao personagem. Vesti então teu traje tecido pelas mãos da solidão, coloquei tua máscara sombria e mergulhei de cabeça na interpretação referente a você.

Então escrevi com uma caligrafia medonha:

“Nunca soube dizer o porquê, mas meu coração não costuma bater por alguém quando está sóbrio. Ele só se envolve quando cede as ondas de álcool que vem e vão dentro de mim. O mesmo acontece com meus olhos que só procuram os de outro alguém quando estou alegre artificialmente. Tenho medo de desbravar olhares, afinal eles são janelas escancaradas para o meu mundo, onde só existe o que é apreciado ou extremamente odiado. Tenho medo de olhares, na verdade, do meu olhar, que ele conte (lê-se grite) meus segredos mais íntimos para alguém que tenha o dom de lê-los. E não quero ser desvendada, gosto de trancar meus segredos em um baú. Aprecio ser um mistério e ter meus arcanos. “

Até o último ponto me perguntei se eu ainda estava sendo você e em que parte eu havia começado a ser eu novamente. Destilar meu eu de você é tão complexo. Acho que sou semelhante a ti no mais remoto interior de mim. Detesto ter de admitir isso - mas é essa simetria que me magnetiza em você – como um imã.

4 comentários:

Uvirgilio disse...

Interessante, fiquei com curiosidade tudo é ficção? Ou um relato do que vc escreve?

Sterphanne Nascimento disse...

Criatividade é o que conta!
gostei de verdade.
seguindo aqui.
passa no meu depois?

Anônimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Oi. To passando pra lhe informar que o blog que você segue o 'My Little Decoy' será excluido brevemente, por isso deixo aqui o link do meu novo blog

Fique a vontade pra nos visitar http://particularidadesalheia.blogspot.com/