segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Teatro Real

Era tarde da noite. Ele resolveu revelar tudo o que sentia, planejou jogar sobre ela as ilusões que sonhava durante as noites de verão enquanto se revirava na cama, na inquietude da madrugada e de seus pensamentos que voavam sempre até ela, porém não fez nada e nada disse também.
Ele secretamente guardava-a em seu peito. Fazia de conta que nada havia mudado desde a noite primaveril e quente daquele novembro, agia como se ainda fosse o mesmo cara descrente de tudo e de todos. Mas ela havia plantado um sentimento diferente naquele coração tão gélido e quase incapaz de semear algo bom. Ela conseguiu, mesmo não sabendo.
Durante tanto tempo, ela também fingiu demasiadamente bem não se importar. Era ríspida em seus diálogos com ele, não queria entregar seu coração a uma pessoa que com certeza lhe feriria, pois aquele era um hábito doentio dele, oferecer amor e depois ir embora sem explicações. Ela decorou as falas dele e guardou nitidamente aquele olhar doce e ao mesmo tempo voraz.
E ela ficava quieta ao seu lado, com medo de deslizar e ser traída por suas próprias palavras, porque houve momentos amáveis, e por isso, altamente perigosos. Tinha medo de confessar tudo o que carregava naquele peito pesado. Queria ser a diferença na vida daquele menino do avesso, tão cheio de erros, que poderia sutilmente transformar toques afáveis em pura dor. Ela sabia que ele vivia de uma forma completamente diferente, quebrando todas as regras e mesmo assim decidiu provar o gosto dele. Flertou com o perigo e saiu machucada.
Mal sabia o coitado, do medo que uma provável aproximação gerava nela. Mas ao mesmo tempo em que ela temia, desejava com cada pedacinho do seu corpo ser procurada por aquele homem novamente. Ele covardemente guardou esse sentimento tão grande no bolso e ela dilui tudo o que sentia em lágrimas e textos idiotas. Ele nunca percebeu que era sempre o personagem principal de suas histórias, ela nunca contou com medo da reação dele. Ela sempre medrosa, ele sempre covarde e o relógio tique-taque, tique-taque.
Dois atores da vida real. Dois perdedores perdidos em meio à confusão de sentimentos. Era tarde demais. Ninguém falou, mas os dois sentiram o solavanco do tempo, os golpes fortes do destino e perderam-se tão doloridamente um do outro. Tinham um amor maduro em mãos, mas deixaram cair por entre os dedos, misturando aquele sentimento precioso aos que não deram certo porque assim deveriam.

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