Eu
teatralmente te mandava embora. Você
dizia com convicção que deseja permanecer. Eu te aceitava e tapava teus erros com o velho
cobertor bordô. Você beijava meus olhos. Eu tinha uma grande vontade de te estapear,
mas as marcas que eu deixava eram das minhas unhas em suas costas. Você dizia
que gostava. Sempre meio masoquista.
Você me recitava Fernando Pessoa. Eu criava
pequenos poemas dedicados a você. Você
citava Nietzsche em nossos diálogos pseudo-intelectuais. Eu te falava dos
Quintanares, enquanto bebíamos meu café que mais parecia água suja. Você
debochava dos meus incríveis dotes culinários, em especial do meu miojo
melequento. Eu te chamava de loser, quando você perdia no Guitar Hero. Você
dizia que eu era descoordenada por viver tropicando e me esbarrando em coisas.
Abraçados assistíamos Friends na sua sala.
Você me dava chocolate branco, mesmo eu dizendo estar de dieta. Porque você
sabia que eu não resistiria ao meu chocolate preferido, tampouco resistiria ao
sorriso do presenteador que vinha de brinde. E éramos felizes assim, sem nunca mencionarmos
explicitamente o “te amo” amedrontador.
Nenhum comentário:
Postar um comentário