Estamos em meio a rodinha de amigos ao som daquela música
alta no escuro da boate. Tento perceber o que faço ali. Não faço parte daquele
lugar. Não gosto do meu corpo, por isso não me permito fazer gestos ainda mais
ridículos com ele. Dançar definitivamente não é meu ponto forte.
− Pedro, você está suficientemente bêbado? –
pergunto-lhe.
− Sim, estou ficando até meio nauseado. Não foi uma ideia
muito brilhante ter misturado todas aquelas bebidas.
− Mas qual é o motivo dessa pergunta agora? Tá querendo
abusar de mim? – disse ele brincalhão como sempre.
− Só quero abusar dos seus ouvidos.
− Taras estranhas, hein.
− Deixa de ser bobo, vou buscar uma água para gente.
Volto com a garrafa de água em mãos e o puxo para sentar no
banco ao meu lado.
− Você tá suficientemente bêbado mesmo?
− Claro, guria.
− Ok, você vai me aguentar chorar.
− Tá maluca?
− Por favor, Pedro – falo implorando – É um saco ter que estar
sóbria quando todos seus amigos estão bêbados.
− Isso é verdade – ele concorda com minha afirmação.
− Gostei da sua camiseta – falo norteando o rumo daquela conversa
para outro ponto.
− ACDC né, Branca! – disse ele se vangloriando por seu bom gosto
musical.
− Isso mesmo, amigo meu tem que gostar de música boa.
− Por que você quer chorar? – ele me pergunta abruptamente.
− Não ando muito legal, preciso desabar às vezes. Não gosto de
fazer isso na frente dos outros, mas como sei que você vai esquecer tudo
amanhã, não vejo problemas...
− Você está me diagnosticando precocemente com amnésia alcoólica,
doutora Branca?
− Sim, agora pare com suas gracinhas. Minha melancolia está
quase evaporando.
− Por que ser uma pessoa melancólica?
− Porque a melancolia é um combustível para minha escrita.
− Bela metáfora – disse ele estendendo os braços, logo após a construção
de 68 quilos de gordura começar a desabar em pranto.
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