sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Deslocado


Os muros pichados contrastavam com sua camisa social. Seus gestos o entregavam: não era dali. Seu riso frouxo se propagando em meio aos burburinhos. Ele tão misterioso e tão decifrável. Parecia sim, deslocado. E contraditório.
Passava os dedos pelo cabelo, como se por entre aqueles fios saísse algo palpável (Uma bussola? Um GPS? Uma esperança perdida no emaranhado de fios loiro?). Como podia ele sorrir tão triste e ao mesmo tempo lançar olhares tão desafiadores?  Seria eu a deslocada tentando preencher-me com vãs filosofias num dia abafado depois da chuva? Seria ele o perdido no caos que é viver?
Também tem aquela possibilidade gritante de que talvez eu esteja analisando terceiros para não identificar meus próprios atos estranhos. Porque observar os outros é muito mais fácil do que essas autoavaliações que fundem a cuca e nos dissipam a naturalidade de simplesmente ser.

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