terça-feira, 9 de outubro de 2012

Tarde Chuvosa



O corpo quente depois do banho. O frio que se instalou depois da chuva lá fora.  A confusão por dentro.  Os pensamentos voando.  A vida acontecendo ao seu redor.  Os dedos tecendo histórias, que os lábios estáticos não contam. O amargo do café ainda na boca. Pensa em fumar mais um cigarro. Observa as paredes velhas e as rachaduras do teto.
Ama calada em sua cadeira reclinável. Ama sem a visão que inunda os olhos. Ama sem aquelas explicações de endorfina e blá-blá-blá científico. Sabe que ama com um músculo involuntário que bombeia aquele sentimento por todo seu ser. Ama simplesmente. Adora aquele corpo esguio com quem dividia o maço de cigarros. Adora as canções que ele ouvia. Adora aquele corpo, mesmo que ele esteja inanimado embaixo da terra.
 Ela ama todas as recordações que a aprisionam no conforto de algo recíproco. Não quer se soltar, quer apenas sorver o passado.  No silêncio da casa vazia, suas memórias ecoam. Como se relembrar dos dias felizes fosse um filme ao qual assistia toda tarde chuvosa. Depois de tudo, transcreve as cenas para o papel, ressuscitando seus mortos e atrofiando seu presente que ainda pulsa. 

Nenhum comentário: