O corpo quente
depois do banho. O frio que se instalou depois da chuva lá fora. A confusão por dentro. Os pensamentos voando. A vida acontecendo ao seu redor. Os dedos tecendo histórias, que os lábios
estáticos não contam. O amargo do café ainda na boca. Pensa em fumar mais um cigarro.
Observa as paredes velhas e as rachaduras do teto.
Ama calada em
sua cadeira reclinável. Ama sem a visão que inunda os olhos. Ama sem aquelas
explicações de endorfina e blá-blá-blá científico. Sabe que ama com um músculo
involuntário que bombeia aquele sentimento por todo seu ser. Ama simplesmente. Adora
aquele corpo esguio com quem dividia o maço de cigarros. Adora as canções que
ele ouvia. Adora aquele corpo, mesmo que ele esteja inanimado embaixo da terra.
Ela ama todas as recordações que a aprisionam no
conforto de algo recíproco. Não quer se soltar, quer apenas sorver o passado. No silêncio da casa vazia, suas memórias ecoam.
Como se relembrar dos dias felizes fosse um filme ao qual assistia toda tarde
chuvosa. Depois de tudo, transcreve as cenas para o papel, ressuscitando seus
mortos e atrofiando seu presente que ainda pulsa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário