Obviamente o LP escrota do REM
estava escondido debaixo do colchão. Você dormia com ele todas as noites, eu te
fazia acreditar que ele tinha voado pela janela no meu último ataque de ciúmes.
Coitado de você, eu não te permitia respirar. Nem escolher trilhas sonoras. Nem
te permitia cultivar o sonho de morarmos em uma choupana no campo.
Pensando bem, agora você vai
poder deixar sua toalha atirada em cima da cama, os tênis ao lado da porta da
frente e deixar o videogame ligado quando sair. Eu sempre te disse que eu não
era empregada, mas eu juntava suas coisas e desligava tudo das tomadas, afinal
de contas, de um jeito errôneo eu te gostava. Por muito tempo, levei tudo na base do
deixar-para-mais-tarde, mas chega de adiar. Uma hora temos que decidir. Na
verdade, eram três da manhã quando decidi.
Já te expulsei de casa tantas
vezes, mas depois que expurgava meus demônios, te gritava e choramingava
arrependida para que voltasse. E você vinha taciturno e com a velha calma
sombria de sempre. Nunca te deixei calar teus pensamentos, te forçava a falar e
cuspir qualquer palavra, talvez pela necessidade que eu sentia de ouvir tua voz
para me certificar que você não partiria outra vez.
E logo mais eu me enchia das tuas
teorias furadas e das tuas filosofias de maconheiro. Nada de simplicidade, eu queria extrapolar em
tudo. E o pior era que você sempre soube da minha extravagância mais do que
gritante, e mesmo assim se aproximou lentamente com seus passinhos tímidos e
esse sorriso amarelo de menino bobo. Poxa,
como você desenhava coisas lindas.
Enquanto eu te escrevia aqueles
meus poeminhas ridículos na esperança de poder dominar um dia tua vida. Porque
acho que é isso que sempre tento ser: a senhora que manipula as marionetes
durante o espetáculo. Eu adoro controlar até o que é incontrolável. E essa
nossa história estava passando dos limites dos quais eu era capaz de suportar.
O fio que minhas mãos seguravam para não deixar esse novelo de linha se
desenrolar foi ficando escorregadio. E junto com ele caiu por entre meus dedos à
vontade de tentar de novo. Depois que ele caiu no chão, eu cai em mim.
Percebi que não posso te obrigar
a ser o que não és. Não é porque quero um homem barbado que você não fará a barba,
não é porque quero um homem cabeludo que você não irá mais cortar seus cachos
loiros. Nem é porque quero morar na cidade no meio dos burburinhos noturnos que
você terá que trocar o cricri dos grilos em seu ouvido enquanto a noite cai no
campo.
É somente porque amo o que
inventei para você ser. O meu projeto de você. Eu te escrevi. Eu te amei
ilusoriamente. E agora te liberto das minhas psicoses para procurar uma
fanática por natureza e REM, para fumarem juntos e tomarem café na madrugada.
Enquanto eu fico por aqui, criando outros personagens, brincando com outras
vidas e tomando meu chá de camomila quase frio.
Um comentário:
Olá, Seguindo seu Blog lá do ORKUT...segue o meu blog também http://memorialdaatrizmariapadilha.blogspot.com.br/ OK??
att!
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