Ela entrou em
minha sala com uma camiseta dos Beatles que era o dobro de seu tamanho. O cabelo
estava preso em um coque no alto da cabeça e com alguns fios soltos, talvez
desgrenhada do vento forte de agosto. Na mão uma garrafa de plástico e no rosto
um olhar de criança assustada. Sério que ela achava que aquela água gaseificada
e cheia de aromatizantes era algo que não a engordaria?
Sempre ouvi
suas conversas com os colegas, obviamente que não de propósito. É... Confesso
que ouvia propositalmente, pois queria entender um pouco do que a dona daquele
par de olhos enigmáticos pensava. Ela era focada demais nos estudos, fazia cara
de rabugenta enquanto eu explicava o conteúdo. E quando ela tinha dúvidas, eu
as sanava. Ela dizia que compreendia, ou apenas assentia com a cabeça de forma
mecânica.
Atrapalhada,
um dia quase quebrou um computador. Nervosa, com a mania de balançar as pernas
até o horário de saída. Já derramou café em trabalhos alheios, ainda acredito
que inocentemente, ou melhor, atrapalhadamente. Ria de uma forma tão estranha,
como se ás vezes lhe faltasse ar ou com um riso parecido com choro. E era completamente
neurótica em relação ao seu peso.
Uma vez a vi
em uma festa, com os cabelos loiros soltos e cacheados, usando um vestido de
paetê que a fazia se destacar ainda mais no meio da multidão. Eu sabia que
seria amoral, antiético e bláblá, mas eu queria me aproximar. Notei que em nossa
volta havia muitos olhares reprovadores, quando lhe ofereci um drink. Ela me
olhou com o mesmo olhar assustado de quando pisou naquela sala de aula no primeiro
dia letivo. Obviamente não era uma criança, seus dezoito anos lhe permitiram
que captasse minha intenção.
Surpreendentemente,
ela sorriu e me convidou para bebermos do lado de fora da festa, sentados no
fio da calçada. Não sei se ela se sentia envergonhada pelo meu ato, ou porque
queria privacidade. Então, enquanto bebericava devagar começou a falar
freneticamente e a me bombardear de perguntas.
Expliquei
que eu nunca a chantagearia. Nem a obrigaria a dormir comigo para tirar boas
notas, afinal de contas, ela era uma garota inteligentíssima e empenhada. E
aqueles óculos que decoravam seu rosto revelaram isso desde o primeiro
instante. E também porque não sou desses caras que comem as alunas. Realmente
eu queria algo mais, não sei como nomear o sentimento que ela despertava em
mim. Claro que o seu corpo me atraia, mas era algo que envolvia alma e gostos
parecidos.
Nos meus vinte
e tantos anos nunca encontrei uma mulher que nem essa garota. Nunca acreditei
em cosmos, astrologias e afins. Mas naquela noite, em que ela não recusou meu
beijo, percebi que nossos destinos eram traçados por algo maior. Foi um momento
meio cinematográfico, enquanto a verborrágica cuspia palavras, subitamente a
calei daquela forma. Senti que ela esperava por aquele momento com fervor
também.
Um comentário:
Pede uma parte 2!rs...
...um abraço!
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