sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

A verborrágica


Ela entrou em minha sala com uma camiseta dos Beatles que era o dobro de seu tamanho. O cabelo estava preso em um coque no alto da cabeça e com alguns fios soltos, talvez desgrenhada do vento forte de agosto. Na mão uma garrafa de plástico e no rosto um olhar de criança assustada. Sério que ela achava que aquela água gaseificada e cheia de aromatizantes era algo que não a engordaria?
Sempre ouvi suas conversas com os colegas, obviamente que não de propósito. É... Confesso que ouvia propositalmente, pois queria entender um pouco do que a dona daquele par de olhos enigmáticos pensava. Ela era focada demais nos estudos, fazia cara de rabugenta enquanto eu explicava o conteúdo. E quando ela tinha dúvidas, eu as sanava. Ela dizia que compreendia, ou apenas assentia com a cabeça de forma mecânica.
Atrapalhada, um dia quase quebrou um computador. Nervosa, com a mania de balançar as pernas até o horário de saída. Já derramou café em trabalhos alheios, ainda acredito que inocentemente, ou melhor, atrapalhadamente. Ria de uma forma tão estranha, como se ás vezes lhe faltasse ar ou com um riso parecido com choro. E era completamente neurótica em relação ao seu peso.
Uma vez a vi em uma festa, com os cabelos loiros soltos e cacheados, usando um vestido de paetê que a fazia se destacar ainda mais no meio da multidão. Eu sabia que seria amoral, antiético e bláblá, mas eu queria me aproximar. Notei que em nossa volta havia muitos olhares reprovadores, quando lhe ofereci um drink. Ela me olhou com o mesmo olhar assustado de quando pisou naquela sala de aula no primeiro dia letivo. Obviamente não era uma criança, seus dezoito anos lhe permitiram que captasse minha intenção.
Surpreendentemente, ela sorriu e me convidou para bebermos do lado de fora da festa, sentados no fio da calçada. Não sei se ela se sentia envergonhada pelo meu ato, ou porque queria privacidade. Então, enquanto bebericava devagar começou a falar freneticamente e a me bombardear de perguntas.
                Expliquei que eu nunca a chantagearia. Nem a obrigaria a dormir comigo para tirar boas notas, afinal de contas, ela era uma garota inteligentíssima e empenhada. E aqueles óculos que decoravam seu rosto revelaram isso desde o primeiro instante. E também porque não sou desses caras que comem as alunas. Realmente eu queria algo mais, não sei como nomear o sentimento que ela despertava em mim. Claro que o seu corpo me atraia, mas era algo que envolvia alma e gostos parecidos.
Nos meus vinte e tantos anos nunca encontrei uma mulher que nem essa garota. Nunca acreditei em cosmos, astrologias e afins. Mas naquela noite, em que ela não recusou meu beijo, percebi que nossos destinos eram traçados por algo maior. Foi um momento meio cinematográfico, enquanto a verborrágica cuspia palavras, subitamente a calei daquela forma. Senti que ela esperava por aquele momento com fervor também. 

Um comentário:

Yohana Sanfer disse...

Pede uma parte 2!rs...
...um abraço!