Apoiei meus
cotovelos sobre a ampla mesa. E no mesmo instante, ele voltou seu olhar a mim.
Eu olhei no fundo daqueles olhos cor de mel que oscilavam ora transparecendo um
sentimento capaz de reprimir meus pensamentos desenfreados, ora um convite a
mergulhar na fantasia que aquele momento me proporcionava a criar. Foi como em um
acidente: nossos olhares se chocaram bruscamente em frações de segundo. E eu me
encolhi, porque aquela troca visual estranhamente doeu como a aflição de doze
socos na barriga.
Depois daquele
momento estranho, um leve rubor se espalhou por minha face. E a vergonha
comandava meus movimentos. Passei olhá-lo durante toda a manhã pelo canto do
olho. Pelo menos, pude concluir que minha visão periférica está em perfeito
estado.
A voz rouca
dele nem é tão bonita. Nem quero sua barba roçando por todo meu corpo. A inteligência
dele nem me faz sentir inferior. E também nem me imagino ouvindo Pearl Jam com
ele no carro. Tampouco nos imagino andando até o cinema de mãos dadas.
Não! Não! Eu
não poderia estar imaginando essas coisas. Não com ele. Sua voz arrepiava os
pelos dos meus braços cobertos pela camisa xadrez vermelha. Eu somente assentia,
concordando com todas suas explicações, enquanto olhava fixamente para a tela
do monitor. E o meio-dia que nunca chegava? O pior é que eu estava sem fome. Meus
pés queriam ficar cravados lá, mas minha consciência me corria com uma vassoura.
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