sábado, 8 de dezembro de 2012

Como a vida é cínica...



 Um dia lá está você saindo da escola, usando uma mochila pesada e com onze anos de vivência. Você larga um olhar de soslaio para um cara que passa ao teu lado com uma camiseta verde e um boné bege. Então, olha mais detalhadamente e percebe que aquela face magra não é estranha.
 Descobrem que são vizinhos e aproximam-se de um modo súbito. Ele te faz ouvir rock pesado e falar sobre coisas não muito convencionais. Manda-te músicas do Silverchair, te procura e te interroga. Cala-se por um tempo. Evapora. E volta. Diz pra você ouvir Slipknot, não acreditar em Deus e fala que gosta dos teus papos psicóticos. Chama-te de criança, mesmo sendo somente cinco anos mais velho. Outro dia, te diz coisas bonitas, arruma as malas em silêncio e parte.
Você vai para o ensino médio, larga o restinho da doce inocência infantil que restava. Enquanto ele ingressa em uma faculdade, e começa a viver seu mundinho paralelo entre números e negócios. Você descobre os livros, assim como os portugueses descobriram um novo mundo, expandindo horizontes. Você passa a escrever. E um dia surge um crítico para sua escrita leiga: ele.
O tempo como um novelo de lã, vai se desenrolando. O tique-taque do relógio fica mais forte. E numa manhã escaldante de um sábado de fevereiro, ele te liga dizendo que está na cidade e que gostaria de trocar umas ideias enquanto tomam um sorvete.  Você dispensa o convite e é soterrada pelas velhas expectativas. Até hoje não sabe sobre aquelas ideias, que com certeza deveriam ser muito mirabolantes e nada reais. Porque naquela época você não era tão utópica, apenas ansiava algo que enraizasse no chão, pois a fantasia que precisava encontrava em Crepúsculo.
Os anos passam, os sentimentos diminuem. Vocês crescem.  E descobrem-se como placas tectônicas divergentes. Afastam-se cada vez mais. Por fim, descobrem que a vida não é cínica. O cinismo é desempenhado pelos atores desse espetáculo, que esnobaram as oportunidades, não interpretaram as cenas idealizadas, sendo responsáveis também pela decupagem falha de um grande filme.

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