Eu deveria ter
ido caminhando. Aquela era minha última
passagem e nem era sexta-feira. Então
resolvi me dar ao “luxo” de pegar o bendito ônibus lotado. Meus pés agradeceram
de eu lhes poupar de uns bons metros de caminhada. E os meus braços já cansados de segurar uma
CPU de um computador do tempo que os dinossauros andavam sobre a Terra também
agradeceram.
As coisas
seriam melhores se eu tivesse conseguido um assento e também se não houvesse
tanto calor humano naquele pequeno meio de transporte. E eu precisava me
agarrar em algo, para que meu desequilíbrio natural não piorasse no embalo do
ônibus, mas o trambolho que eu levava nas mãos não me permitia tal ação. Todos
me olhavam boquiabertos e irritados por eu ocupar espaço demais.
Mas o que eu
poderia fazer? Eu estava envergonhada e como sempre desengonçada. Até que uma
alma bondosa sentiu compaixão de mim. Diferente dos outros 32 passageiros que
estavam lá sentados e só me olhavam de modo debochado, ele me ofereceu seu
assento. Meu Deus! O que era aquilo? Um cavalheiro, um anjo ou um simples rapaz
educado? Olhei-o com toda a ternura que eu pude e lhe agradeci umas dez vezes
por me tirar daquela situação desconfortante.
Eu não sabia
quem ele era. Somente sabia que cursava História por causa da camiseta que
usava e que morava a cinco quadras depois da saída da universidade e que dobrava na
esquina da farmácia. E o mais
importante: que ele era gentil.
Tá ai,
gentileza é uma coisa rara nesses tempos invertidos e desvairados. Quando uma
pessoa pratica algo bom se torna surpreendente e atos nem tão louváveis são
vistos como normais. Se fossemos mais colaborativos, preocupados com a natureza
que nos cerca e fizemos pequenos atos com grandeza, nem cogitaríamos o fim do
mundo previsto para amanhã.
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