quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Sobre o fim do mundo


Eu deveria ter ido caminhando.  Aquela era minha última passagem e nem era sexta-feira.  Então resolvi me dar ao “luxo” de pegar o bendito ônibus lotado. Meus pés agradeceram de eu lhes poupar de uns bons metros de caminhada.  E os meus braços já cansados de segurar uma CPU de um computador do tempo que os dinossauros andavam sobre a Terra também agradeceram.
As coisas seriam melhores se eu tivesse conseguido um assento e também se não houvesse tanto calor humano naquele pequeno meio de transporte. E eu precisava me agarrar em algo, para que meu desequilíbrio natural não piorasse no embalo do ônibus, mas o trambolho que eu levava nas mãos não me permitia tal ação. Todos me olhavam boquiabertos e irritados por eu ocupar espaço demais.
Mas o que eu poderia fazer? Eu estava envergonhada e como sempre desengonçada. Até que uma alma bondosa sentiu compaixão de mim. Diferente dos outros 32 passageiros que estavam lá sentados e só me olhavam de modo debochado, ele me ofereceu seu assento. Meu Deus! O que era aquilo? Um cavalheiro, um anjo ou um simples rapaz educado? Olhei-o com toda a ternura que eu pude e lhe agradeci umas dez vezes por me tirar daquela situação desconfortante.
Eu não sabia quem ele era. Somente sabia que cursava História por causa da camiseta que usava e que morava a cinco quadras depois da saída da universidade e que dobrava na esquina da farmácia.  E o mais importante: que ele era gentil.
Tá ai, gentileza é uma coisa rara nesses tempos invertidos e desvairados. Quando uma pessoa pratica algo bom se torna surpreendente e atos nem tão louváveis são vistos como normais. Se fossemos mais colaborativos, preocupados com a natureza que nos cerca e fizemos pequenos atos com grandeza, nem cogitaríamos o fim do mundo previsto para amanhã.

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