quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Quase inteira

Somos eu, você e o calor estranho de fevereiro.  Eu me remexo na cama procurando um jeito confortável de ficar deitada. Ligo o ventilador. Desligo-o. Ligo o ar condicionado. Desligo-o. Sinto frio. Sinto calor. Sinto a angústia crescendo em meu peito.
Me encolho até parecer um tatu-bola. Não estou confortável ainda. Coloco meus pés sob teus quadris. Percebo teu desconforto.  Puxo teus braços e viro teu corpo para que fique de frente para ao meu. Olhar com olhar. Teu abraço me sufoca. Tua respiração pesada deposita peso até na minha. Então me reviro na cama, bagunço os lençóis e te dou as costas.
As molas do colchão me irritam, assim como o lençol me irrita ao pinicar minha pele. Arfo o ar com dificuldade e não consigo engolir minha própria saliva. É como se eu me engasgasse. É como se ao mastigar o mundo, ele tivesse ficado entalado em minha garganta. Fecho os olhos com força.
O que me desconforta?   Me sinto incapaz de ser dona de mim. Me sinto idiota, frágil e medrosa. Não consigo mais suportar. Explodo. E as lágrimas caem.  No escuro do quarto, tu tateias meu rosto, pressentido o que era iminente que aconteceria.
Como tu suportas esses altos e baixos tão inesperados? Como ainda não se encheu de mimimi e neuroses fora de hora? Me pergunto sempre isso.  Não sei por que tenho essas crises e esses big bangs dentro de mim.
Choro compulsivamente por uns 15 minutos. Tu me questionas o porquê. E a resposta é sempre aquele substantivo pequeninho: medo. Só que em cada circunstancia, muda o complemento da frase.
Tu me afagas o cabelo embaraçado. Tu beijas minhas bochechas úmidas e me apertas em um abraço de consolo. O peso de eu ser alguém pela metade recai sobre teus ombros de pessoa-inteira. Até quando tu suportarás esse fardo?
Meu inconsciente gritante se aquieta.  As perguntas cessam, enquanto tu sussurras fofurices em meus ouvidos. Me recomponho. Me regozijo . Continuo a farsa: sou inteira de novo.

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