Somos eu, você e o calor estranho de fevereiro. Eu me remexo na cama procurando um jeito
confortável de ficar deitada. Ligo o ventilador. Desligo-o. Ligo o ar
condicionado. Desligo-o. Sinto frio. Sinto calor. Sinto a angústia crescendo em
meu peito.
Me encolho até parecer um tatu-bola. Não estou confortável
ainda. Coloco meus pés sob teus quadris. Percebo teu desconforto. Puxo teus braços e viro teu corpo para que fique
de frente para ao meu. Olhar com olhar. Teu abraço me sufoca. Tua respiração
pesada deposita peso até na minha. Então me reviro na cama, bagunço os lençóis
e te dou as costas.
As molas do colchão me irritam, assim como o lençol me
irrita ao pinicar minha pele. Arfo o ar com dificuldade e não consigo engolir
minha própria saliva. É como se eu me engasgasse. É como se ao mastigar o
mundo, ele tivesse ficado entalado em minha garganta. Fecho os olhos com força.
O que me desconforta? Me
sinto incapaz de ser dona de mim. Me sinto idiota, frágil e medrosa. Não
consigo mais suportar. Explodo. E as lágrimas caem. No escuro do quarto, tu tateias meu rosto,
pressentido o que era iminente que aconteceria.
Como tu suportas esses altos e baixos tão inesperados? Como
ainda não se encheu de mimimi e neuroses fora de hora? Me pergunto sempre
isso. Não sei por que tenho essas crises
e esses big bangs dentro de mim.
Choro compulsivamente por uns 15 minutos. Tu me questionas o
porquê. E a resposta é sempre aquele substantivo pequeninho: medo. Só que em
cada circunstancia, muda o complemento da frase.
Tu me afagas o cabelo embaraçado. Tu beijas minhas bochechas
úmidas e me apertas em um abraço de consolo. O peso de eu ser alguém pela
metade recai sobre teus ombros de pessoa-inteira. Até quando tu suportarás esse
fardo?
Meu inconsciente gritante se aquieta. As perguntas cessam, enquanto tu sussurras fofurices em meus ouvidos. Me recomponho. Me regozijo . Continuo a farsa: sou inteira de
novo.
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