Vejo o enfeite que adorna a
janela remexendo-se por causa do vento. É como uma dança sintonizada com a
música de fundo cantada pela vizinha. Enquanto isso, o sol lá fora ainda arde. Novembro e calor intenso. São 15 horas e eu agora bocejo.
Penso em fazer algo de útil, mas
a minha cadeira, mesmo desconfortante, clama por meu corpo sobre ela. Agora
observo o giz de cera e os lápis em cima da mesa da cozinha. Penso em colorir
as folhas brancas, espalhar cartazes e escrever frases coloridas. Não! Não é
isso ainda. Quero algo mais profundo.
Quero escrever sobre a sociedade,
a alma e a ingratidão. Mas não, não é isso ainda. Quero ligar a TV, mas o
controle está longe demais. Quero escrever sobre a lonjura dos teus olhos dos
meus. (Devo apagar a última linha? Tá cafona demais!).
Começo a espirrar, pelo menos
assim, eu estou colocando algo pra fora: um atchim estranho. São quinze horas e
trinta minutos, e eu não tenho nenhuma ideia como a do Benedetti, nem tenho
papel carbono, tampouco um amor de tarde.
Não tenho álcool, não tenho
cigarros, não tenho criatividade. Quero
escrever, mas acho que algo se perdeu em mim. Não tenho lirismo, não tenho
métrica e não tenho uma boa gramática. Tenho apenas um ardor que ferve as
pontinhas de meus dedos. Tenho algo soterrado por dentro, que pede para ser
escrito. E eu, inóspita para ser um bom terreno literário, descampo os
sentimentos plenos e me embebedo em futilidade ao descrever cenas cotidianas.
Sem expressar o que quer ser expresso. Sem dizer o que precisa ser dito.
2 comentários:
''Quero escrever sobre a lonjura dos teus olhos dos meus''
A linha mais bonita desse texto!
Tenho somente um pedido: Volte a escrever.
Tu precisa lançar um livro com teus textos pra ficar famosa, e aí eu vou poder mostrar que já tenho um autógrafo teu de quando tu era quase desconhecida =D
P.S.: Se tu voltar a escrever, prometo que escrevo de novo também, pra compensar todo o tempo parado.
Postar um comentário