Primavera nos Dentes

            Sabe o que estou fazendo agora? Ouvindo Secos e Molhados. Sim, Primavera nos Dentes. Não faz meu tipo né? Mas nada das coisas que tenho feito ultimamente se encaixam no meu tipo. Olha bem, você tem noção do que fez comigo? Estou ouvindo os gritos do Ney Matogrosso e chorando. Coisa de maluca, eu sei.

Acho até que você tem certo medo de mim agora. Medo desse meu jeito torto e intenso de querer. Confesso que ando entrando em parafusos e que bebo um pouco para mais. Além de viver remoendo coisas que você nem deve mais lembrar. Eu passo 5, 20, até quantas vezes minhas pernas aguentarem na tua rua. Sem contar que sempre te vejo entrando em farmácias, mercados, cruzando ruas. A todo instante te enxergo em outros corpos. Tudo isso é meio doentio, eu sei. O pior é isso: saber do erro e continuar martelando.

 Só queria que você soubesse que eu não me importava que você conversasse com as paredes verdes do teu quarto. Eu relevava a tua filosofia junkie e sinceramente eu adorava a tua teoria em relação à magia. Sempre achei engraçado o teu desprezo por tecnologia.  E ainda quando leio Millôr Fernandes, lembro que tu gostavas das citações dele. Lembro-me também do cheiro do teu cigarro em meus cabelos, do teu gosto em minha boca e dos teus olhos nos meus. Continuo te vendo nos tiques alheios ao bagunçar o cabelo e ao roer loucamente as unhas. Sabe... Você me despertava emoções tão boas que eu nem sabia que existiam. Acho que nunca vou esquecer teus olhos e todo o conjunto que os acompanhavam.

Na minha falta de ânimo, eu aceitava teus uísques. No meu turbilhão de sentimentos, eu aceitava tuas migalhas. E acho que foi assim que fui me perdendo. Quando me dei por conta, não sabia mais o caminho de volta. Eu não sabia e ainda não sei como contornar todo esse sentimento que entulha minha vida.