sábado, 24 de novembro de 2012

Desordem


                A porta se fechou com o vento, mas literalmente ela ainda está aberta para você. Não precisa tocar a campainha. E tenho um segredo para te contar: sei exatamente o barulho dos teus passos.
                O liquidificador estragou, não posso mais fazer o mousse de maracujá. Mas ainda tenho sachês de chá de camomila para bebermos nas noites frias enquanto conversamos sobre nossos livros lidos.
                A torneira da pia está pingando incessantemente. Há diversos pratos a serem lavados. Uma pilha de lençóis sujos ao lado da cama preenche o quarto quase vazio. Os restos de Nissin tomam conta das panelas. E a porta do banheiro continua emperrando.
                O sofá confortavelmente me persuade a permanecer atirada como uma enferma. A vontade de permanecer deitada todo dia é gritante, e subitamente a obedeço. A desordem está instaurada nessa casa. E a desordem está instalada em mim também. O caos chegou faz certo tempo.
Eu sei que você vai dizer que continuo dramática ao extremo. Chantageio-te, jogo baixíssimo, porque sei que nem as jogadas mais limpas mudariam o rumo das coisas. É só um jeito estranho de continuar tentando algo que já está perdido. Somente para não ficar cheia de um vazio sem sentido.

2 comentários:

Helen Ferreira disse...

Fazia tempo que não aparecia por aqui Maura, percebi que teus textos estão mais maduros. Mas tão mais bonitos quanto antes.

Autora da História disse...

Obrigada Hellen, saiba que também acompanho seu blog e que gosto muito do que leio por lá.