É sempre
triste quando acompanhamos grandes tragédias nos jornais. Porém a angústia é
ainda maior quando o cenário é a cidade na qual moramos. Quando ligamos a TV
tudo parece fictício demais, longe demais e insano demais. Mas basta abrirmos
as janelas para escutarmos as sirenes como a pior trilha sonora desse filme
catastrófico.
Na
segunda-feira passada, estava eu e algumas amigas combinando de irmos a Boate
Kiss, mas como sou menor de idade ainda, eu não poderia entrar. Uma colega deu a
ideia de falsificar a carteira de identidade apenas modificando a data de
nascimento e ainda acrescentando o breve comentário: “não dá nenhum problema, tu só não pode morrer lá dentro”. Nunca agradeci tanto por ter dezessete anos,
não gostar de sertanejo, morar longe do centro, ser politicamente correta e ter
ido para a casa de minha mãe no final de semana.
Realmente o
domingo do dia 27 de janeiro foi um longo dia. Um incêndio ceifador de inúmeros
sonhos. É estranho ver a cidade assim, como sinônimo de confusão, desgraça e
dominada por essa gritante dor coletiva. Logo Santa Maria, sempre conhecida
pelo sua recepção calorosa. Tenho
muitas amigas que diziam não gostar de Santa Maria. Eu sempre gostei da ideia
de morar aqui. Preferia sempre ver a cidade de um prisma bom, como um cenário
jovem e alegre, que acima de tudo permitiria o amadurecimento atrelado à
diversão. Gosto de olhar os morros ao redor, principalmente no caminho da
universidade até em casa. Gosto de ver a vida que pulsa quente nessa população
cheia de sonhos. E gosto também do momento de paz quando o vento bate em meu rosto enquanto estou sentada embaixo de alguma árvore no campus da UFSM. Talvez eu tenha me esbarrado no ônibus, no RU, no banco com algum desses jovens que tiveram um fim tão trágico. Talvez tenha até trocado olhares acidentalmente com algum ou dado alguma informação.
Foram mais de duzentas vidas interrompidas, sem contar, as pessoas que vivenciaram isso
tudo e levarão com pesar imagens inapagáveis na memória. Acredito que nós, que permanecemos
aqui, devemos ter esperança e vontade de mudar as coisas. E acima de tudo, não
nos deixarmos tomar pelo pessimismo, mesmo que nessa circunstância ele tente nos prender em um abraço sufocante.
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