quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Silêncio Noturno



    - O que você acha de deitarmos no jardim?
                - Gosto mais da sua pequena cama de solteiro.
                - Você é um bêbado muito careta.
                - Só não gosto muito de natureza.
                - Não estou te pedindo pra participar do Greenpeace, ser defensor da natureza ou vegetariano. Só queria que deitasse comigo debaixo das estrelas, como naqueles filmes toscos.
                -Por que você fica imaginando a vida como um filme?
Ela se calou. Não sabia responder. Subitamente agarrou a mão esquerda dele e o conduziu para fora do quarto. Ele ainda meio confuso foi com passos lentos até o jardim. Os dois se deitaram desajeitadamente sobre a grama fofa.
                - Você quer ouvir música?
                - Não.
                - Você não quer que eu cante “Lucy in the sky with Diamonds”, ?
                - Não.
                - Eu posso fumar ao menos?
                - Por que você não observa as estrelas e deixa-me consumir um pouco de silêncio?
                - Você quando bebe tem esses momentos existenciais demais.
Ela não o olhou nos olhos, pois estava hipnotizada pelo brilho das estrelas, como uma criança que acaba de ganhar um novo brinquedo. Ela também não o respondeu. Apenas se aconchegou em seu corpo e o fez de travesseiro. Ele deixou que ela remoesse o silêncio noturno, enquanto se perguntava qual a mensagem subliminar daquele momento estranho ou se aquilo era somente produto de uma bebedeira que seria esquecido pela manhã.


Pública - Lugar Qualquer


Um comentário:

poemasavulsos disse...

"...ou se aquilo era somente produto de uma bebedeira que seria esquecido pela manhã."
Romântico e ao mesmo tempo realista. Sucinto, porém complexo. Muito bom!

Abraços!

@poemasavulsos