terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

O leitor de Drummond


Confesso que a semana entre o natal e o ano novo foi conturbada emocionalmente. O baque de saber que eu estava presente em estrofes de algumas poesias era surpreendente. Quando eu iria me imaginar inserida em um contexto poético criado por outrem?
Demorei pra acreditar que eu era a terceira pessoa do singular que ocupava aquelas linhas repletas de algo bonito. Justo eu, criatura pequena e mesquinha.
Eu que jogava olhares rápidos com medo de ser mal interpretada. Eu que primeiramente o achei arrogante e resistente aos novos conceitos de fazer literatura. Por seguinte, acabei tomada por uma leve admiração ao ouvir que sua nova aquisição era uma coleção de livros do Drummond.
Confesso que nos primeiros instantes eu hesitava. Não tinha certeza do que fazer, mas quando me vi estava lá. Sentada ao seu lado perto dos trilhos, conversando todo o tipo de assunto possível e rindo das pessoas que passavam pela rua. Eu ria nervosamente e indecisamente. Valeria a pena arriscar? E se eu fosse novamente personagem que se ferra no final de história?
Parecia que ia chover. Parecia que a confusão estava instalada em mim.
E numa noite de sábado eu abracei, ainda tímida, a possível felicidade que me era oferecida. Primeiro, a conversa na cozinha, enquanto eu tomava vinho e comia estrogonofe já gelado. Depois o entrelaçar de sua mão na minha, conduzindo-me ao quarto, onde os gritos estridentes que tomavam conta da casa atravessavam as portas e a série The Middle muda passava por nossos olhos inquietos. Abaixei a guarda e me fiz de repouso para o sentimento que ansiava ser acolhido.
Tudo isso foi tomando grandes proporções, tão grandes que eu nem sabia que seriam abrigadas em mim um dia.  Tudo tão rápido, mas ao mesmo tempo em um ritmo agradável. Desvendei-o, e ainda o desvendo paulatinamente em cada novo dia.
E só eu sei do quanto eu não quis assistir o fim de O Fabuloso Destino de Amélie Poulain. Só eu sei das sensações que meu corpo suporta quando sente seu toque. Só eu sei do como as músicas dos Beatles caem bem na sua voz.  Só eu sei de como gosto de me aninhar no seu peito.
Ele, tão menino frágil, fazendo-me sentir tão má. Ele, menino furioso, enchendo meus olhos d’água. Ele que quando quieto, me faz sentir incomodada, porque de certa forma aquele silêncio traiçoeiro me agride. Ele sempre paz e amor, quando raivoso soa engraçado. Ele que ao sacolejar do meu lado no ônibus, enquanto os feixes de luz da cidade ao anoitecer mesclam diferentes emoções em seu rosto, se torna uma pintura bonita que inunda meus olhos.

Um comentário:

Rovênia disse...

Vc escreve bem, consegue por no papel sentimentos e criatividade de bom gosto! Vou te seguir para ir lendo essas histórias inacabadas. E está convidada a visitar meu cantinho (datilografe.blogspot.com.br) para uma xícara de chá. Um grande abraço!