Confesso que a semana entre o
natal e o ano novo foi conturbada emocionalmente. O baque de saber que eu
estava presente em estrofes de algumas poesias era surpreendente. Quando eu
iria me imaginar inserida em um contexto poético criado por outrem?
Demorei pra acreditar que eu era
a terceira pessoa do singular que ocupava aquelas linhas repletas de algo
bonito. Justo eu, criatura pequena e mesquinha.
Eu que jogava olhares rápidos
com medo de ser mal interpretada. Eu que primeiramente o achei arrogante e resistente
aos novos conceitos de fazer literatura. Por seguinte, acabei tomada por uma
leve admiração ao ouvir que sua nova aquisição era uma coleção de livros do
Drummond.
Confesso que nos primeiros
instantes eu hesitava. Não tinha certeza do que fazer, mas quando me vi estava
lá. Sentada ao seu lado perto dos trilhos, conversando todo o tipo de assunto
possível e rindo das pessoas que passavam pela rua. Eu ria nervosamente e
indecisamente. Valeria a pena arriscar? E se eu fosse novamente personagem que
se ferra no final de história?
Parecia que ia chover. Parecia
que a confusão estava instalada em mim.
E numa noite de sábado eu abracei,
ainda tímida, a possível felicidade que me era oferecida. Primeiro, a conversa
na cozinha, enquanto eu tomava vinho e comia estrogonofe já gelado. Depois o
entrelaçar de sua mão na minha, conduzindo-me ao quarto, onde os gritos estridentes
que tomavam conta da casa atravessavam as portas e a série The Middle muda
passava por nossos olhos inquietos. Abaixei a guarda e me fiz de repouso para o
sentimento que ansiava ser acolhido.
Tudo isso foi tomando grandes proporções,
tão grandes que eu nem sabia que seriam abrigadas em mim um dia. Tudo tão rápido, mas ao mesmo tempo em um
ritmo agradável. Desvendei-o, e ainda o desvendo paulatinamente em cada novo
dia.
E só eu sei do quanto eu não quis
assistir o fim de O Fabuloso Destino de Amélie Poulain. Só eu sei das sensações
que meu corpo suporta quando sente seu toque. Só eu sei do como as músicas dos
Beatles caem bem na sua voz. Só eu sei de
como gosto de me aninhar no seu peito.
Ele, tão menino frágil,
fazendo-me sentir tão má. Ele, menino furioso, enchendo meus olhos d’água. Ele
que quando quieto, me faz sentir incomodada, porque de certa forma aquele
silêncio traiçoeiro me agride. Ele sempre paz e amor, quando raivoso soa
engraçado. Ele que ao sacolejar do meu lado no ônibus, enquanto os feixes de
luz da cidade ao anoitecer mesclam diferentes emoções em seu rosto, se torna
uma pintura bonita que inunda meus olhos.
Um comentário:
Vc escreve bem, consegue por no papel sentimentos e criatividade de bom gosto! Vou te seguir para ir lendo essas histórias inacabadas. E está convidada a visitar meu cantinho (datilografe.blogspot.com.br) para uma xícara de chá. Um grande abraço!
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