Lembro-me da
alegria ao te ouvir chegares inesperadamente durante a noite, trazia-me uns
docinhos e a tua ironia cotidiana. Lembro-me também como eu mendigava tua
atenção, mas acho que o Discovery Chanel era mais legal do que eu. Lembro-me da
única vez que foste me buscar na escola. Lembro-me das tuas críticas sobre tudo
e sobre todos. Eu, pequena, sempre aceitava calada as censuras direcionadas a mim como
socos no estômago.
Eu queria
entender esse teu gênero difícil, mas sou ainda mais difícil e teimosa. Quando tu
te afastas, tranco as portas. Daí um diazinho lá pelas tantas, comovo-me pelas
histórias tristes que me contam em relação a ti. Desespero-me e procuro-te. Nem
sempre obtenho respostas, porque tu és realmente um fujão. E logo volto ao meu
posto de teimosa.
Fugistes de
quem precisava de ti. Cinco vezes. Cinco erros. E todos esses erros tu nomeou.
Todos esses erros tu renega. E um desses erros sou eu. Que erroneamente e
odiosamente te amo, mesmo que não saiba demonstrar. Mesmo que a única vez que
te expressei meu amor, recebi em troca um silêncio intrigante.
Então, deixa-me
vomitar as minhas verdades entaladas agora. Deixa-me te provar que posso ser
maior. Deixa-me escrever a minha história. Deixa-me te dizer que nem todos
esses sapatos, nem todas essas roupas, nem todos esses presentes ressarcem a tua
ausência. Mas desse hiato em minha história faço poesia. Poesias dessas que tu
achas patifaria. Poesias baratas e com versos brancos. E prosas meia-boca. E também
essas historinhas de quem vive presentificando o passado e remexendo em feridas
que ainda latejam.
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