Como ele
consegue desencadear em mim emoções tão variadas em um curto espaço de tempo? Pela
manhã eu estava disposta a odiá-lo por ter me deixado esperando uma hora
plantada na frente da padaria em que iríamos tomar café da manhã. Até que desisti
de vê-lo e segui furiosa para o trabalho.
Enquanto
caminhava, como se marchasse, com a raiva se espalhando por cada célula do meu
corpo, senti o telefone tocar dentro da bolsa. Com certeza ele iria me despejar
uma enxurrada de desculpas, mas eu não estava com paciência para ouvir juras e
as reafirmações de promessas antigas em que eu já nem acreditava mais.
Desliguei o celular, querendo me desligar também.
Sinceramente
eu não esperava que ele atravessasse a cidade para ir até o meu trabalho me
buscar. Eu queria evitá-lo, pelo menos por uns dias. Juro que eu tinha uma
grande vontade de gritar e o acusar na frente de todo mundo pela a sucessão de
erros que ele vem cometendo comigo, porém resolvi preservar meu trabalho.
Juntei os textos que eu deveria revisar em casa, enquanto ele me esperava
impaciente.
Ele disse que
a culpa é do despertador. Eu digo que não é só aquele atraso matinal que está
nos atrapalhando. Digo que há algo como um muro nos separando, uma parede invisível
que não nos permite aproximações. Ele entrega-me um botão de rosa vermelha e eu
retribuo o presente com um olhar perdido, perguntando-me se ele achava que aquilo
bastava.
Acho que o
problema era esse – estávamos levando as coisas na miudeza –
desvalorizando os grandes significados. Fui franca, olhei para aquele grande
par de olhos que me fitavam amedrontado e cuspi minhas verdades ácidas. Eu
precisava saber se aquilo era mesmo o certo, se tínhamos o mesmo esboço de
horizonte para traçar.
Quando ele
me olhou com determinação, senti que ele realmente me queria por perto. E me
vez perceber que os erros eram menores que os acertos. No fundo ele sempre foi
doce. Ele me conhecia bem, pelo menos até antes de eu virar essa psicótica
cheia de incertezas que joga as dúvidas em seus ombros para lhe fazer sentir
culpado, quando na realidade a verdadeira culpada sou eu. Por eu andar
descrente demais, desiludida com alguns atos, vou logo querendo esquecer todo o
resto.
Ele me
puxou para um abraço e me fez recuperar toda a esperança que eu depositava na
gente. Quando ele disse que andava confuso, por eu estar estranha, sempre
exigindo alguma coisa que eu não deixava clara o que era. Confessei-lhe que eu não
queria somente materialidades e clichês, eu necessitava de algo que me abastece
de novas crenças. Ele compreendeu-me, beijou-me com ardor, segurou minha mão e
caminhamos pela rua habitada somente por nós e o vento gélido de inverno.
Agora estávamos
na direção certa: indo para casa, depois de termos nos encontrado. Agora eu
acreditava novamente que aquele sentimento poderia ser inexorável.
3 comentários:
Suas histórias me prende a atenção, muito boa...bjm
Uau! Que legal. Curti muito seu texto. Adorei seu, e por isso estarei seguindo para ler seus textos. Beijos!
http://percepcaooculta.blogspot.com.br/
Obrigada gurias por visitarem o meu cantinho e lerem com carinho meus escritos. Beijos!
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